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Calendário Sacro Profano

NOVEMBRO

Podes árvores alimpar,

No crescente, e também pôr,

Mas o minguante é melhor

Para madeira cortar.

De novem, nove, por ser o nono mês do calendário de Rómulo.

Anexins

 

Cava fundo em Novembro, para plantares em Janeiro

Em Novembro, chuva, frio e sol e deixa o resto

Novembro à porta, geada na horta

Novembro mata o porco

Trinta dias tem Novembro, Abril, Junho e Setembro, vinte e oito terá um e os mais têm trinta e um

1 Kalendae Novembres / Todos os Santos / Feriado nacional

 

Na noite de Todos os Santos andam todos os defuntos pelo Mundo. A prática da visita aos cemitérios acentuou-se em meados de novecentos.

Dia do Pão por Deus e dos magustos de castanhas (Chiado, Prática de Compadres).

Samhaim celta.

 

Anexins

Por Todos os Santos neve nos campos; De Todos os Santos ao Natal perde a padeira o cabedal; De Todos os Santos ao Natal é bom (ou ou bem) chover e melhor (ou ou bem) nevar; Por Todos os Santos semeia trigo e colhe cardos; De Todos os Santos ao Natal Inverno natural; De Todos os Santos a Santo André um mês é; de Santo André ao Natal, três semanas; De Todos os Santos ao Advento nem muita chuva nem muito vento; Dos Santos ao Natal, cada dia mais mal; do Natal ao Entrudo come-se capital e tudo.

 

2 a. d. IV Nonas Novembres / Finados ou Fiéis Defuntos / N. Senhora das Almas

 

Uma das raras sobrevivências das Calendas romanas (duplas calendas, ou calendas dobradas: no dia 1 celebram-se os defuntos canonizados; no dia 2 todos os defuntos que morreram sem aroma de santidade, ou ainda não chegaram aos altares). A comemoração de Finados foi fixada pelo abade de Clemy, em 998.

Dia do Santoro (do latim, pão dos santos). Neste dia era costume repartir-se muito pão cozido pelos pobres. No Peral (Cadaval), as crianças recebiam brindeirinhas (pãezinhos de trigo). Na Ericeira as crianças começavam logo de manhã a pedir o Pão por Deus. Talvez este costume derive da tradição de darem merendeiros aos meninos, no dia em que falecia alguém ou no aniversário de morte de algum indivíduo. Costuma a criança pedir na vila e a mãe ou o pai "Bai" às missas de finais e à missa campal no cemitério. Este velho costume deve vir dos antigos costumes de se darem merendeiros aos meninos, nos dias em que falecia alguém. Consta em velhos testamentos, onde se acham consignadas certas verbas para serem despendidas em merendeiros para os meninos.

Na Rapa deixa-se um açafate de pão dentro de um guardanapo branco para os defuntos da casa virem comer durante a noite. Outras consagrações alimentares oferecidas às almas dos defuntos: papas de milho (Alto Alentejo), papas de abóbora (Aveiro), etc.

 

3 a. d. III Nonas Novembres / S. Malaquias / Sto. Urbão / S. Martinho de Porres (padroeiro dos mulatos, invocado para afugentar ratos) (calendário moderno) / Sto. Huberto

 

Anexim

Por Santo Urbão gavião na mão.

 

4 pridie Nonas Novembres / S. Carlos Borromeu / S. Vital e Agrícola, mártires

 

5 Nonae Novembres / Sta. Bertilda, abadessa de Chelas / Zacarias e Sta. Isabel

 

6 a. d. VIII Idus Novembres / Beato Nuno de Santa Maria

 

7 a. d. VII Idus Novembres / Sto. Ernesto / S. Florêncio / Sto. Vilibrordo (invocado para a cura da epilepsia e das convulsões)

 

Dia quartã.

 

8 a. d. VI Idus Novembres / Quatro Santos Coroados, mártires (padroeiros dos pedreiros, escultores e canteiros)

 

No calendário romano: abertura do mundo de Ceres.

 

9 a. d. V Idus Novembres / Consagração da Basílica de Latrão / S. Maturino (padroeiro dos bobos e dos oleiros, invocado em casos de loucura, para cura de homens possessos e ainda para preservar da perversidade das mulheres) / Santo Ursino / S. Teodoro, mártir

 

10 a. d. IV Idus Novembres / S. Leão Magno (calendário moderno) / Sto. André Avelino (calendário antigo) / Stos. Trifão e Respício, mártires (calendário antigo) / Sta. Ninfa, virgem e mártir (calendário antigo)

 

11 a. d. III Idus Novembres / S. Martinho de Tours, bispo / S. Meno (calendário antigo)

 

Inicia-se o período mais perigoso do ano: a mãe alimentadora transforma-se na mãe devoradora. A grande-deusa recolhe-se ao seio da terra, em subterrâneos naturais ou artificiais para aí receber os mortos: a deusa prenha das colheitas entra em hibernação. Bonecas de espiga são encerradas nos palheiros ou nos espigueiros para só regressarem à luz do dia no início do ano seguinte. A essência dos festejos centra-se nas celebrações alimentares: merendas de castanha e magustos (consagrações alimentares sobre locais de enterramento: comida para os mortos manducada pelos vivos por procuração) – prova do vinho novo (Procissão dos Bebados / enfarruscados); Castanha (Restauração = o Castanheiro cortado reverdece) ou Batata (Alentejo e Algarve); Matança do Porco.

As Constituições do Bispado do Porto (séc. XVI-XVII) mencionam expressamente as manducações sobre as sepulturas ao decretar a proibição geral dos festins fúnebres.

Realizam-se as Procissões dos Bêbados: Irmandade de São Martinho (homens); Irmandade de Santa Bebiana (mulheres). O mais bêbado passeava-se com uma bandeira pela localidade (Arrebenta, Mafra) = Levar a Bandeira. Nos Açores havia a “latada de São Martinho”, procissão alegre dos borrachos conhecidos, tangendo latas e chocalhos.

Feira de São Martinho no Rossio da Venda do Pinheiro. Augusto Bastos Troni descreve o que lhe foi dado observar na edição de 1929 (O Romeiro, 15 de Dezembro):  "A primeira coisa que se deparou nela, foram as clássicas vendedoras ambulantes de pevides, tremoços e castanhas. Percorrendo mais, achá-mo-nos como que num círculo formado a nascente e a Norte pela feira de gado, a Sul pelas barracas de fantoches, de tiro, de feras, etc., e ao poente tinhamos as vendedoras ambulantes de tudo o que se possa vender, desde as quinquilharias até à ourivesaria. A meio do círculo estavam as casas de comidas, entre as quais vi a apetitosa carne de porco. Cada um se divertiu a seu modo: nos cavalinhos, nos aeroplanos, nas barracas de tiro (...) O que principalmente fez as delícias dos mais miúdos foram as feras, tais como: leões, raposas, lobos, porcos-espinhos, a cabra de seis pernas, etc." Transaccionavam-se ainda cereais (aveia e cevada) e sementes de fava e ervilha, roupas e loiças. A supracitada "apetitosa carne de porco" era a famosa Fritada de carne (carne de porco frita, também chamada Carne às Mercês). Para a sua confecção preparava-se um rectângulo de terreno (com cerca de 2 m x 0,5 m), fazendo duas ou três fogueiras com ferros. A carne era frita em frigideira de barro, tendo a água-pé e o colorau por condimentos.

A um tributo pago pelo S. Martinho em Trás-os-Montes dava-se o nome de martineja (cf. Viterbo, Elucidário e A. Herculano, História de Portugal, v. 4, p. 420)

 

Anexins

No S. Martinho barra o vinho e põe-te de mal com teu vizinho; No dia de S. Martinho mata o teu porco e bebe (ou prova) o teu vinho; No dia de S. Martinho mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho; A cada bacorinho vem (ou cada porco tem) o seu S. Martinho ; Pelo S. Martinho mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e bebe o teu vinho; No dia de S. Martinho mata o pobre o seu porquinho; As geadas de S. Martinho levam a carne e o vinho; Por S. Martinho prova o vinho (ou teu vinho); ao cabo dum (ou no cabo do) ano já te não faz dano; Pelo S. Martinho semeia o teu cebolinho que o meu já está crescidinho (ou nascidinho); No S. Martinho castanhas (ou lume, castanhas) e vinho; No dia de S. Martinho fura o teu pipinho; No dia de S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho; Pelo S. Martinho a semente do pobre está melhor no campo do que no moinho; Pelo S. Martinho abatoca o teu vinho (ou o pipinho); Pelo S. Martinho nem nado nem no cabacinho; Pelo S. Martinho espicha teu vinho; Pelo S. Martinho semeia o teu trigo, e a velha que o dizia, semeado o tinha; Por S. Martinho semeia fava e linho; Por S. Martinho nem favas nem vinho; Por S. Martinho todo o mosto é bom vinho; Se o Inverno não erra caminho, virá pelo S. Martinho; Se queres pasmar teu vizinho, lavra, sacha e estruma pelo S. Martinho; Em dia de S. Martinho faz magusto e prova o teu vinho; Por S. Martinho mata teu porco, barra teu vinho; No dia de S. Martinho é eleito o homem que bebe mais vinho; Pelo S. Martinho barra-se o vinho; Dia de S. Martinho todas as adegas têm vinho; No S. Martinho mata o porquinho, prova o vinho e põe-te a mal com o vizinho; O Verão de S. Martinho é um dia e um bocadinho (ou dura três horas e três poucochinhos); Isso quer Martinho, sopas de vinho; Martinho bebe o vinho e deixa água para o moinho.

 

12 pridie Idus Novembres / S. Josafat Kuncewitz (calendário moderno) / S. Martinho I, papa e mártir (calendário antigo)

 

13 Idus Novembres / Sto. Estanislau Kostka / S. Diego, religioso (calendário antigo)

 

Feronia: festival romano celebrado pelos escravos e libertos, a quem oferciam dinheiro

 

14 a. d. XVIII Kalendas Decembres / N. Sra. do Patrocínio /S. Laurent O’toole / S. Nicolau Tavelic e companheiros / S. Sidónio /S. Josafat, bispo e mártir (calendário antigo)

 

15 a. d. XVII Kalendas Decembres / Sto. Alberto Magno, bispo e doutor / S. José Pignatelli / Mártires do Paraguai / S. Rafael Kalinowski

 

Cerca desta data celebravam os gregos a festa de Khalkeia, iniciando-se o Inverno com a chegada do mês Maimakterion (15 Nov.-15 Dez.), durante o qual se realizava a Pompaia, procissão do Tosão sagrado, pele de cordeiro sacrificado em honra de Zeus Meilikhios, um aspecto ctónico do deus supremo.

 

16 a. d. XVI Kalendas Decembres / Sta. Gertrudes (protectora contra febres e ratos do campo) / Sta. Margarida da Escócia

 

17 a. d. XV Kalendas Decembres / S. Hugo / S. Gregório, taumaturgo e bispo (calendário antigo) / Sta. Isabel de Hungria (calendário moderno)

 

18 a. d. XIV Kalendas Decembres / Consagração das Basílicas de S. Pedro e S. Paulo / Sta. Filipina de Duchesne / Sto. Odo (invocado para pedir chuva)

 

19 a. d. XIII Kalendas Decembres / Abdias, profeta / Sta. Isabel de Hungria (calendário antigo) / Sta. Mechtilde /S. Ponciano, papa e mártir (calendário antigo)

 

20 a. d. XII Kalendas Decembres / S. Félix de Valois / Sto. Edmundo

 

21 a. d. XI Kalendas Decembres / Apresentação de N. Sra. no Templo

 

22 a. d. X Kalendas Decembres / Sta. Cecília, virgem e mártir

 

23 a. d. IX Kalendas Decembres / S. Clemente I, papa e mártir / Sta. Felicidade, mártir (calendário antigo) / S. Columbano (calendário moderno)

 

Anexim

Por S. Clemente, alça a mão da semente.

 

24 a. d. VIII Kalendas Decembres / S. João da Cruz, doutor (calendário antigo) /S. Crisógono, mártir (calendário antigo) / Mártires do Vietname (calendário moderno)

 

25 a. d. VII Kalendas Decembres / Sta. Catarina, virgem e mártir (padroeira de filósofos, estudantes e jovens sem casar depois dos 25 anos)

 

Leite de Vasconcelos reporta ter observado em S. Bartolomeu (Castro Marim, 1896) o costume de deitar grãos de trigo e ervilhaca em pires com água, a fim de estarem germinados na véspera do Natal para serem, colocados no presépio. Passados os Reis, eram deitados no lixo.

 

Anexins

De Santa Catarina ao Natal, mês igual; Pela Santa Catarina, toda a madeira toma raízes.

 

26 a. d. VI Kalendas Decembres / Desposórios de N. Sra. / S. Leonardo de Porto Maurício / S. Silvestre, abade / S. Pedro de Alexandria, bispo e mártir

 

27 a. d. V Kalendas Decembres / N. Sra. da Medalha Milagrosa / S. Facundo / S. Severino

 

28 a. d. IV Kalendas Decembres / S. Tiago da Marca /Sta. Catarina Labouré / S. Trofimo

 

Início da novena da Imaculada Conceição.

 

29 a. d. III Kalendas Decembres / S. Justino / S. Saturnino, mártir / S. Francisco Fasani

 

30 pridie Kalendas Decembres / Santo André, apóstolo

 

Anexins

Em dia de Santo André quem não tem porco mata a mulher; No dia de Santo André diz o porco quié-quié; No dia de Santo André vai à esquina e trás o porco pelo pé; De Todos os Santos a Santo André um mês é; de Santo André ao Natal, três semanas; Por Santo André, o setestrelo posto é; Por Santo André, todo o dia noite é; Quem apanha azeitona antes de Santo André, fica-lhe o azeite no pé; Pelo Santo André, vai o sete-estrelo à maré.

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