top of page
mmv manifesto

Monumento Mafra Virtual

Manifesto

logo-IdeGeo

 

Monumento de Mafra é a designação adoptada para aludir ao complexo formado pelo Palácio-Convento de Mafra, Jardim do Cerco e Tapada. De resto, à imagem do que sucedeu até à implantação da República, de cuja acção e negligência resultou o actual estado de coisas: o desmembramento de um todo coerente, delineado e concretizado sob a direcção do Magnânimo, Fidelíssimo e Luso Rei-Sol, Dom João V.

Incensado ou denegrido, o Monumento de Mafra tem autorizado maniqueísmos ideológicos, apurado dissenções estéticas e servido para zurzir gostos. Não obstante, permanecem enigmáticas ou inverosímeis muitas das circunstâncias relacionadas com os seus primórdios, nunca apuradas de forma totalmente satisfatória.

Do seu acervo destacam-se a Biblioteca conventual, a única in situ no nosso país, a colecção de estatuária italiana (a mais vasta fora de Itália), os dois carrilhões e o conjunto de seis órgãos da Basílica, exemplos ímpares e nunca emulados à escala mundial.

Por um tal motivo a inexistência de investigações pluridisciplinares sistemáticas com vista ao esclarecimento das inúmeras perplexidades que esse património ainda hoje coloca, é tanto mais surpreendente quanto parece relevar de um misto de indiferença, preguiça intelectual e incúria, tão ao jeito nacional.

Há cerca de três décadas eram raras excepções aqueles que lhe dispensavam alguma atenção.

 

O legado romântico oitocentista perdurava ainda, inabalado.

 

Apesar de tudo, não fora uma obra de ficção, o Memorial do Convento de José Saramago, e tal estado de coisas teria persistido, quiçá indefinidamente, sem remédio.

Hoje, o cenário é, decididamente, outro.

 

Os amadores e críticos de arte de antanho foram rendidos por docentes e académicos que adoptaram a fábrica do Magnânimo para tema das suas dissertações, atraindo, desse modo, para ela novas atenções, sob a alegada reivindicação de renovado rigor epistemológico.

No entanto, e não obstante o enfoque geral haja sido transferido para tópicos mais consentâneos e de harmonia com as actuais preocupações da historiografia de arte, com alguns resultados louváveis sublinhe-se, falta assimilar muita pesquisa independente, não afectada por inibições de cariz institucional e corporativo, para aceder à visão sistémica, qualitativamente adequada aos pressupostos metafísicos que consabidamente nortearam D. João V.

E quais poderão ter sido tais pressupostos metafísicos?

 

Quando ocorre interpelar a actuação de D. João V, raros são aqueles que não caem na tentação de dizer que tudo o que o soberano tinha em mente era uma insaciável sede de ostentação, ou que a exuberante sumptuária, de que se fez Mecenas, apenas servia a esse fim. Explanação pobre que esvazia de sentido o ideário que lhe andava subjacente.

Com efeito, o espectáculo foi, no período barroco, uma necessidade intrinsecamente associada ao exercício do poder. O monarca absoluto desejava atrair, surpreender e causar o pasmo do povo. Pessoas e instituições assumiam o compromisso tácito, quase obrigatório, de o secundar nessa tarefa.

O principal agente do espectáculo era, no entanto, o monarca, que elegia o argumento, a cenografia, o guarda-roupa e os actores da encenação, dando forma e conteúdo ao imaginário do corpo simbólico e imortal dO Rei.

Concomitantemente, e como corolário da teoria do duplo corpo do soberano (indivíduo privado e encarnação do Estado), seria enfatizada a mitologia do Imperium, a qual permitia reforçar o poder Real e dar uma coerência à sua política e um objectivo às suas acções. Porém, uma vez adoptada a lição da Antiguidade Clássica e do seu tempo mítico, os monarcas absolutos careciam do espaço correspondente: a cidade capital, edificada à imagem de Roma, onde cada elemento da arquitectura e da paisagem urbana supunha uma semântica própria, de cujo sentido derradeiro o Rei era o lídimo detentor.

Nova Roma foi como Camões crismou Lisboa, em quinhentos. Em seiscentos, António Vieira considerá-la-ia um espelho da Cidade Eterna. Não obstante, nunca antes como a partir do século XVIII, com D. João V, o tema terá servido de glosa com tamanha insistência, datando uma tal emulação, ensaiada nas cátedras e nos púlpitos, dos primórdios do reinado do Magnânimo.

Seja como for, mais do que as palavras, os cristalinos emblemas do programa imperial de D. João V, gibelino na sua essência (porquanto raramente foram pacíficas as suas relações com o Papado), são os actos que consubstanciaram, a divisão de Lisboa em dois hemisférios (para adequá-la à profecia que preconizava a síntese de Oriente e Ocidente na Capital do Quinto Império), a criação da Basílica Patriarcal, autêntico “simulacro da Corte Pontifícia dentro da sua Capela” e o Aqueduto das Águas Livres, reconhecida prerrogativa dos Augustos Romanos.

O palácio-cenóbio mafrense participaria do mesmo programa, na ideação, estrutura e até nas circunstâncias da sua Sagração. O clérigo italiano D. Gabriel Cimballi, convidado para a função de Mafra, em 22 de Outubro de 1730, confessaria “que assistindo a muitos Pontificais na Capela do Papa não vira celebrar algum com tanta pompa e grandeza, assim na riqueza dos paramentos como na multiplicidade dos ministros, perfeição das cerimónias e harmonia de vozes, e só poderia ter a diferença de em Roma administrarem Cardeais o que em Mafra fizeram Cónegos”.

Face ao exposto e em vista da desarticulação funcional daquele que é, quiçá, a derradeira expressão (cronologicamente falando) do universalismo lusíada, bem como da quase indigente gestão a que se assiste, sem remédio aparente, torna-se evidente a necessidade imperiosa de subordinar o Monumento de Mafra à missão emblemática que um conjunto patrimonial de tal envergadura física e ideológica, é inexorável, tem de encarnar, porquanto:

 

 

* Constitui uma obra-prima do génio humano;

 

* É expressão de um considerável intercâmbio de valores humanos, num dado período, designadamente no que concerne à arquitectura, às artes plásticas, ao planeamento urbano e ao desenho paisagístico;

* Acha-se directa e evidentemente associado a acontecimentos, tradições, ideias e crenças relevantes, bem como a obras artísticas e literárias de excepcional significado universal.

 

 

Nessa conformidade, Monumento de Mafra Virtual que se assumirá como um exercício de cidadania activa, propõe-se convocar a memória, o entendimento e a vontade de todos quantos, instituições e indivíduos, se manifestem disponíveis para, concertadamente, e no quadro da Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural, promoverem a inclusão do Monumento de Mafra na Lista do Património Mundial, com base nos critérios I, II e VI da aludida directiva, aprovada, em Novembro de 1972, nas 32ª e 33ª Sessões Plenárias da UNESCO.

PROGRAMA DE INICIATIVAS

 

a promover pelo CESDIES – IDEGEO, no âmbito das Comemorações do Tricentenário da Sagração da Basílica de Mafra (17.11.2016-17.11.2017)

 

 

Cremos ser este o momento oportuno para expor informações, ideias, reflexões e sugestões que o conhecimento documentado das diversas facetas do seu quotidiano desde as origens parece autorizar. E, deste modo, dar um contributo para uma célere candidatura do Monumento de Mafra à classificação enquanto Património Mundial.

O acervo actualmente patente no Palácio Nacional de Mafra foi organizado pela iniciativa, proficiência e depurado sentido estético do seu primeiro Director, Avres de Carvalho, há mais de cinquenta anos. As opções museológicas então adoptadas, e são anacrónicas todas as discussões hodiernas acerca da sua legitimidade ou adequação, deveram-se a um conjunto de circunstâncias conjunturais em que avultaram:

 

  1. a imperiosa necessidade de rapidamente tomar condigno um monumento, autêntico ex-libris do barroco português, praticamente abandonado à sua sorte desde a implantação da República, em 1910;

  2. a circunstância de não existir no edifício mobiliário e adereços em quantidade e qualidade para povoar de forma adequada o tão avultado número de salas e divisões por onde os visitantes eram encaminhados para a Biblioteca, a única pérola verdadeiramente genuína do diadema.

 

 

Confrontado com a contingência de não lograr cumprir a incumbência para que havia sido nomeado, Ayres de Carvalho viu-se, assim, compelido a angariar todos os “trastes que jaziam em depósitos e armazéns estatais”, valorizando-os tanto quanto possível, e dispondo-os mais consoante as suas próprias características do que tendo em consideração o quotidiano palaciano de Mafra, de resto, até então, só muito incipientemente investigado.

Inúmeras salas vazias passaram a dispor de acervos alheios e, com a chegada e arrumação destes, adquiriram designações e funções que nunca tinham tido, tornando-se, quiçá, agradáveis aos sentidos, mas, igualmente, palco para cenografias e reconstituições de fantasia.

Talvez o exemplo que melhor retrata a situação descrita tenha sido a mudança dos aposentos da Rainha, primitivamente no torreão Sul, para o torreão Norte. onde se haviam situado os aposentos do Rei, e vice-versa, prejudicando doravante a adequada leitura e compreensão da mensagem panegírica dos frescos parietais de Cirilo Volkmar Machado…

Não será difícil invocar mais casos, existindo salas onde todos os objectos expostos são oriundos de outros edifícios, nomeadamente dos Palácios da Ajuda, das Necessidades e de Sintra, ou ainda algumas onde só uns quantos ali se acham originários de Mafra, caso da Sala da Audiência, à qual apenas o trono pertence.

Em suma, quem após visitar o Palácio Nacional de Mafra se julgue, e não serão poucos os visitantes equivocados, ciente da forma como aí se desenrolava a vida cortesã, mais não fez do que passear-se por ambientes recriados segundo critérios estéticos e museológicos, senão já obsoletos, pelo menos destituídos da autenticidade histórica exigida pela maioria dos actuais utentes, para já não referir a sua mais completa incompatibilidade com a vertente didáctica que um monumento da envergadura física e ideológica deste, obrigatoriamente, tem de assumir, sob pena de um divórcio completo com a comunidade.

Nesta conformidade, o Palácio Nacional de Mafra terá, a breve trecho e inexoravelmente, de reformular-se museograficamente, integrando quer a imensa panóplia de dados históricos, culturais e científicos já disponíveis, quer as especificidades locais e regionais, inclusivamente ao nível da sua gestão, porquanto este particular Palácio é, em primeira instância, património mafrense…

Só é possível organizar e concretizar um tão vasto e diversificado programa de iniciativas com a colaboração e o empenho de muitos amigos e mecenas individuais e institucionais. Se estiver interessado em tomar-se amigo ou mecenas contacte o Monumento de Mafra Virtual.

O Monumento de Mafra Virtual garante aos seus mecenas a possibilidade de oferecerem eventos especiais, visitas guiadas a grupos profissionais ou escolas, que para esse efeito desejem convidar, ou colaborar na edição de volumes monográficos.

a promover pelo CESDIES e IDEGEO, no âmbito das

 

Comemorações do Tricentenário da Sagração da Basílica de Mafra

 

(17.11.2016-17.112017)

Programa Monumental Mafra

PROGRAMA

bottom of page